Sobre os gémeos

13-03-2010 19:05

 

 

Os estudos modernos com gémeos demonstram que aqueles que foram separados no nascimento ou pouco depois dele são mais semelhantes do que os que foram criados juntos ou separados com uma idade mais avançada. Como isso pode ser explicado?



 O estudo com gémeos é muito importante para a psicologia, pois se trata de uma situação natural que parece ter sido bolada por cientistas: pessoas com carga genética idêntica (no caso dos monozigóticos), que tanto podem ter a mesma criação, quando criadas juntas, como criações totalmente diferentes, quando são separadas no nascimento. O debate nature versus nurture ou natureza versus criação se enriquece através de estudos empíricos com esse grupo de pessoas.   
Até a década de 70 os estudos com gémeos não eram confiáveis, pois envolviam invenção de dados, falta de ética etc. Hoje, a maioria dos estudos com gémeos são realizados com mais cuidados, e são comuns principalmente na disciplina conhecida como genética do comportamento. Entre humanos, aproximadamente 1 em cada 250 nascimentos é de gémeos idênticos e muitos das pesquisas são feitas em países escandinavos, onde os governos mantém gigantescos bancos de dados sobre seus cidadãos.

Voltando à questão inicial, Ridley (2003) provê uma possível explicação para o fato de que as pesquisas apontam que gémeos idênticos criados separados sejam mais semelhantes do que os criados juntos:

“Pequenas diferenças no carácter inato são exageradas pela prática, não aplainadas por ela. Isso é o que acontece entre gémeos idênticos. Se um é mais extrovertido que outro, eles gradualmente exagerarão esta diferença” (Ridley, 2003, p. 323).
Portanto, os gémeos criados juntos tenderiam a reforçar suas diferenças para se diferenciarem um do outro, já os separados não teriam essa preocupação. De qualquer forma, os testes confirmam que os gémeos idênticos, separados ou não ao nascer, são muito parecidos, mas não idênticos, em praticamente qualquer característica que se possa medir, seja em se tratando de personalidade, de hábitos ou de desenvolvimentos de doenças.

 “(...) a esquizofrenia é acentuadamente concordante com gémeos idênticos, que têm em comum todo o DNA e a maior parte do ambiente, porém muito menos concordante com gémeos fraternos, que têm em comum apenas metade do DNA (do DNA que varia na população) e a maior parte do ambiente” (Pinker, 2004, p. 74).
Muitas outras condições que são encontradas em famílias são mais concordantes em gémeos idênticos do que em gémeos não-idênticos, são mais acertadamente prognosticadas com base em parentes biológicos do que em parentes adoptivos e mal prognosticadas com base em qualquer característica mensurável do ambiente. São algumas dessas condições: autismo, dislexia, atraso na linguagem, deficiência na linguagem, depressões graves, distúrbio bipolar, distúrbio obsessivo-compulsivo, orientação sexual etc.Gémeos idênticos são muito mais semelhantes do que os não-idênticos, sejam criados juntos ou separados, gémeos idênticos criados separadamente são muito semelhantes; irmãos biológicos, sejam criados juntos ou separados, são muito mais parecidos do que irmãos adoptivos. Além disso, gêmeos idênticos criados separadamente são muito mais similares que gêmeos não-idênticos criados separadamente. 

  “Gémeos idênticos pensam e sentem de modos tão semelhantes que às vezes desconfiam estar ligados por telepatia. (...) São semelhantes em inteligência verbal, matemática e geral, no grau de satisfação com a vida e em características de personalidade como ser introvertido, aquiescente, neurótico, consciencioso e receptivo à experiência. Têm atitudes semelhantes diante de questões polémicas como pena de morte, religião e música moderna. São parecidos não só em testes de papel e lápis, mas no comportamento consequencial como jogar-se, divorciar-se, cometer crimes, envolver-se em acidentes e ver televisão. (...)”. (Pinker, 2004, p. 74).
Assim, os estudos demonstram que diferenças em mentes podem provir de diferenças em genes. Isso não significa que o papel da criação seja nulo, pelo contrário, a hereditariedade depende inteiramente do contexto. De qualquer forma, o papel dos genes não pode ser ignorado.